Por Joice Antero
Aula inaugural do Pré-Vestibular 2025, o tema deste ano é “Força ancestral e resistência cultural do povo preto”. A turma em homenagem à Tia Ciata iniciou a jornada no Dia Internacional contra a Discriminação Racial, um dia marcado por reflexão e o início de uma jornada por acesso ao ensino superior. O evento foi realizado no Pró- Auditório da Reitoria do Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (IFBA), localizado no Canela, em Salvador/BA.
A abertura da cerimônia contou com apresentação artística do Movimento Erê na Praça. O movimento, sediado no bairro da Cidade Nova - Alto do Morro, tem como principal missão a formação artística e política de crianças, jovens e famílias de comunidades da favela, com visão de um futuro mais justo e digno para crianças negras e indígenas. Buscando sempre valorizar as identidades afro-brasileiras, indígenas e baiana, o coletivo é formado por 6 jovens: Gabriela Gomes, João Pedro Lisboa, Willy Claudio Monteiro, Wilma Bomfim, que se unem às fundadoras Madalena Gomes e Uiliane Monteiro.
Foto: Marlon Amorim
O evento contou com a mediação da Prof.ª Gleissia Santos na primeira mesa composta por Profa. Nívea de Santana Cerqueira que representou a Reitora Profa. Dra. Luzia Mota; Priscila que neste ato representou a Diretora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (DPAAE) IFBA, Profa. Dra. Norma Souza de Oliveira; O Diretor Executivo – Lázaro Cunha e a Diretora de Projetos - Jucy Silva.
No segundo momento a mesa foi composta pela Mediadora da mesa – ?Tayse Jessica Barros, licenciada em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Professora de História Geral do Pré-vestibular Steve Biko (ICSB) e da Rede Pública Estadual da Bahia (SEC), também egressa do Instituto Steve Biko. Mestranda em História Social pela Universidade Federal na Bahia (UFBA) na linha de pesquisa Escravidão e Invenção da Liberdade; e composta por Juliana Ribeiro - Cantora, compositora, historiadora, doutoranda em Cultura e Sociedade e mãe de Sonora; Lindinalva Barbosa - Educadora, Licenciada em letras e Mestre em Estudos de Linguagens/UNEB. Filha de Oyá e Egbon do Terreiro do Cobre, ativista do Movimento Negro e de Mulheres Negras; Prof.ª Ms. Sueli Santana, ex-professora do ICSB, Makota do Terreiro de Lembarocy, professora mestra em Diversidade pela UNEB) e professora do quadro efetivo de Camaçari; e Sr. Vadinho França, Presidente do Bloco Alvorada.
Foto: Marlon Amorim
“Conheço a instituição desde o início, o Steve Biko tem uma coisa muito importante, ele forma pessoas e essas pessoas se tornam multiplicadores para muito mais outras pessoas terem oportunidade de ingressar na universidade. Sempre digo que assim como a Steve Biko, os terreiros de Candomblé, e o Alvorada são símbolos de resistência, que nos fizeram fortes, que deu notoriedade a cultura e o povo negro” pontuou Sr. Vadinho França, Presidente do bloco Alvorada.
Foto: Marlon Amorim
O Instituto Cultural Steve Biko celebra 33 anos de história, reafirmando seu compromisso com a educação como ferramenta de transformação social e combate ao racismo. Fundado em 31 de julho de 1992, por um grupo de professores e estudantes negros visionários, o ICSB surgiu da necessidade urgente de unir a militância negra em torno de um projeto educacional emancipador.
O primeiro cursinho pré-vestibular voltado para a população negra do Brasil. O ICSB nasceu com um propósito claro abrir portas jovens negros e negras para o ensino superior. Um legado de resistência, o nome do Instituto é uma homenagem a Bantu Stephen Biko, líder sul-africano que personificou a luta contra o apartheid, um regime de segregação racial que oprimiu a maioria negra da África do Sul. A filosofia de Biko, que defendia a consciência negra e o orgulho racial, inspira o trabalho do ICSB, que busca fortalecer a identidade e o protagonismo da população negra no Brasil.
No Instituto Cultural Steve Biko, a sala de aula se transforma em um espaço de acolhimento e empoderamento, além de preparar jovens para o vestibular, com as disciplinas de base curricular, o cursinho oferece uma jornada de autoconhecimento e construção de cidadania. O grande diferencial da metodologia é a disciplina de Cidadania e Consciência Negra (CCN) que vai além dos livros, através de debates, reflexões e atividades práticas, os estudantes fortalecem sua identidade, elevam sua autoestima e ampliam sua visão de mundo, através da educação, é possível fortalecer os alunos para ingressar e concluir o ensino superior.
Foto: Marlon Amorim
“Através do CCN a gente começa a perceber como o racismo opera em sociedade e como ele funciona, como os corpos negros são negligenciados, é uma experiência que é muito boa, empodera a gente e prepara para ingressar na universidade, a ideia é que a gente estude não para ocupar o topo, mas para lutar de forma coletiva e alcançar um bem maior, e trazer cada vez mais nossos irmãos e colegas para ocupar a universidade” Enzo Sousa - Egresso do Curso de 2024 Estudante de Medicina.
A turma de 2025 homenageia Tia Ciata, batizada como Hilária Batista de Almeida, nasceu em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, em 13 de janeiro de 1854. Aos 16 anos participou da fundação da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, outra cidade do Recôncavo Baiano. A Irmandade, que existe até hoje, faz parte do seu legado. Filha de Oxum, foi iniciada no Candomblé na Casa de Bambochê, da nação Ketu. Aos 22 anos, levando consigo uma filha, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se destacou como uma das figuras centrais na preservação das tradições africanas no Brasil.
Foto: Marlon Amorim
Laisa Guaciara, é aluna pré-vestibulanda da turma Tia Ciata 2025 e pontua os motivos de ter escolhido o Instituto Steve Biko “Conheci o curso por uma aluna, pretendo fazer o curso de Direito, escolhi o Instituto pela proposta da instituição, por ter pessoas como eu, negra, de Candomblé, tenho expectativas que eu consiga concluir o objetivo e ingressar na universidade.”
A jornada de preparação para o vestibular é desafiadora, exigindo dedicação, disciplina e resiliência. O Instituto Steve Biko busca formar redes de apoio, cidadãos conscientes e engajados, capazes de transformar a realidade social e combater o racismo, tudo isso é realizado através do suporte integral, além do estudo curricular, é fornecido apoio psicológico, orientação vocacional e atividades extracurriculares, auxiliando os alunos em todas as etapas da jornada.
“Sempre temos o carinho e o cuidado em apresentar aulas com temas e palestrantes embasados no CCN, que é o nosso diferencial, enquanto curso preparatório, nossa aula inaugural é o primeiro encontro de CCN - cidadania e consciência negra, ou seja, buscamos nesse momento e outros , inspirar e motivar os novos estudantes a acreditar que cada um, com seus sonhos e potenciais devem persistir e mesmo em uma sociedade extremamente racista e excludente, só através da educação podemos transformar algumas realidades.” Pontuou a coordenadora do curso pré-vestibular, Cristiane Paula.
Sobre as principais mensagens que Cristiane Paula gostaria de transmitir como integrante do instituto aos estudantes na aula inaugural é “Acredite nos seus sonhos, transcenda o que nos é posto, assuma seu papel de sujeito, pois o racismo estrutural tenta nos impedir de alcançarmos as lideranças e uma vida digna, precisamos nos rebelar com uma arma muito mais potente que possamos perceber, a caneta. Seja o sujeito protagonista da sua história.”