Trilha Ancestral reafirma resistência da ancestralidade negra 

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Trilha Ancestral reafirma resistência da ancestralidade negra 

Trilha Ancestral reafirma resistência da ancestralidade negra 


Foi realizada no último domingo (15/09), a tradicional “Trilha Ancestral” do Instituto Cultural Steve Biko, no Parque São Bartolomeu, Subúrbio Ferroviário de Salvador. Com o tema “Aquilombamento como Forma de Resistência: Histórias e Lutas”, a atividade desenvolvida pela coordenação pedagógica do pré-verstibular da instituição e tem como objetivo aproximar os jovens negros e negras da natureza, aprendendo com ela a sua relação com a ancestralidade, na Bacia do Cobre, região marcada pela presença secular da comunidade negra no Subúrbio de Salvador.

Para a coordenadora pedagógica do pré-vestibular do Instituto, Cristiane Paula, o objetivo da Trilha é permitir que os estudantes acessem bens culturais e ampliem as possibilidades de conhecimento que serão usados em suas vidas, não apenas nos concursos de vestibulares. “A Trilha faz com que os alunos percebam a questão do meio ambiente, a importância da preservação, a história do que é um quilombo, como é o caso do Parque São Bartolomeu, um quilombo de resistência dos povos negros, dos povos indígenas. É importante estar neste espaço, fazer a Trilha com os professores apresentando os seus conteúdos, nos direcionando cada olhar com criticidade para o local. A atividade também nos remete à importância da ancestralidade, da religiosidade de matriz africana, o pertencimento. Fazer acontecer a Trilha todos os anos no pré-vestibular do Steve Biko é um ato de nossa resistência”, afirmou a coordenadora.

 

Imagem: Ascom Steve Biko

 

O Professor de Química do Pré-Biko, Carlos Cruz, que é o idealizador da Trilha, fala que a atividade de "ocupação" do Parque São Bartolomeu é importante, pois é um momento de reclamação e conscientização do curso ambiental, além de ser uma trilha de identificação. "É uma Trilha onde nós conseguimos identificar os nossos antepassados, conseguimos identificar as nossas ancestralidades, conseguimos identificar e visibilizar a importância dos povos indígenas, dos Tupinambás, dos negros escravizados da diáspora africana. E mais do que isso, nós conseguimos resgatar uma história de Salvador que não é contada. Uma história de Salvador que é invisibilizada, onde os protagonistas são justamente os povos indígenas e os povos da diáspora africana", explicou o professor.

De acordo com o diretor Executivo do Instituto Steve Biko, Lázaro Cunha, a tradicional Trilha tem como objetivo resgatar a ancestralidade e chamar a atenção para a valorização da cultura negra no espaço urbano de Salvador. “Esse retorno anual ao parque é essa reconexão contínua com a nossa ancestralidade, com a natureza, que é um bem precioso, que a gente precisa cada vez mais valorizar e compreender o vínculo que nós temos com ela. Não dá pra pensar vida humana sem essa conexão com a natureza. Então ao fazer uma aula interdisciplinar dessa, a gente busca não só que os estudantes tenham conhecimento técnico sobre efetivamente o que é os conteúdos de biologia, de física, matemática, química, de história, de geografia, mas, também, busca essa valorização, esse bem precioso que a gente tem”, reforçou o diretor. 

 

        

                                             

Fotos: Ascom Steve Biko

“Salvador é uma cidade bloqueada, principalmente para quem mora na periferia longe dos considerados centros. Então, é importante a gente adentrar esse espaço, tanto para permitir que os estudantes conheçam a sua própria cidade, que eles conheçam também espaço de herança africana, indígena e que eles possam se conectar à cidade, ter o pertencimento daquilo que é público, é disponível, mas é inacessível na cidade. É importante pois eles conseguem fazer relacionar o que estão aprendendo na sala de aula com o que está acontecendo aqui no Parque, isso torna o conhecimento mais significativo, pois saem da linha teórica e vão para a prática”, lembrou a diretora pedagógica do Instituto, que reforça que esta metodologia diferencial da Biko tem sido realizada também em outros espaços culturais, como museus, possibilitando aos estudantes saírem da sala de aula e viverem a cidade.  

A historiadora e professora da disciplina de Consciência e Cidadania Negra (CCN), do pré-vestibular, Gleissias Santos, reforça que a Trilha é um momento de reconexão e do desenvolvimento de uma consciência crítica que demarca os espaços na cidade. “Eu acho muito significativo esse movimento de trazer estudantes para conhecer o Parque São Bartolomeu, pois, muitas vezes, na dinâmica do dia-a-dia, eles não têm acesso a esses espaços. E quando têm acesso não é de maneira tão crítica e tão reflexiva, pelo contrário, muitas vezes, tomam conhecimento por meio de narrativas eurocêntricas”, ressaltou a historiadora.

 

        

                                                              Fotos: Ascom Steve Biko

 

O professor Carlos explica ainda que durante o passeio, é possível entender um pouco melhor a história de Salvador,  a história da independência no Brasil, o que comunga com a independência da Bahia. "Dentro dessas relações, nós ainda trazemos, dentro desse parque, desse resquício de Mata Atlântica, disciplinas como biologia, história, matemática, física, literatura, química. Nós trazemos todas as áreas do conhecimento para cá, ciências da natureza, ciências exatas e ciências humanas. É uma forma que os alunos têm, não só de resgatarem a sua ancestralidade, mas de associarem a interdisciplinaridade como base no dia de hoje", finalizou.



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