Não há independência sem nós: os novos desafios

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Não há independência sem nós: os novos desafios

Não há independência sem nós: os novos desafios


É notório que a luta da população negra baiana e brasileira ainda enfrenta enormes barreiras. E o desafio primordial é “nos mantermos vivos”, com qualidade de vida e felizes. O Instituto Cultural Steve Biko tem priorizado a ascensão social por meio da promoção da educação. E, nestes 31 anos, tem focado na preparação da população negra para o ingresso no ensino superior, a partir de uma trajetória de formação cidadã dos jovens negros e negras de todo estado. 

O trabalho de referência do Instituto foi celebrado na noite da última segunda-feira, 31, na sede da Biko dentro da programação de aulas da turma Maria Felipa, do pré-vestibular, um dos principais projetos da instituição. O encontro, um espaço de trocas entre gerações de bikudos, bikudas e bikudes, contou com a presença do presidente de honra, Sílvio Humberto, das professoras do pré-vestibular, Jaqueline Queiroz e Maiana Lima, além do diretor executivo, Lázaro Cunha, dos coordenadores do Oguntec Cristina Santos e Paulo Mendes, da gestora administrativa, Jussara Santos e da coordenadora pedagógica Cristiane Paula. 

 

Para o diretor executivo do Instituto, Lázaro Cunha, a história da Biko é fundamentada no legado dos que lutaram no passado e pavimentaram os caminhos atuais, por isso, o aniversário da Biko é comemorado através da formação e da conscientização de pessoas, combatendo diariamente um sistema que tem por base o racismo estrutural e enfrentando os desafios.

“Estamos no caminho certo. Está aqui, por exemplo, é uma ação política muito forte e já estamos fazendo isso há 31 anos. É importante reforçar, estamos sendo muito competentes nisso, temos vários bikudxs que estão criando problemas para os sistemas. E é por isso que eles tentam nos matar todos os dias. A mente articulada para eles é um perigo. A nossa camisa é importante, pois não é qualquer camisa, quem a veste são pessoas com mentes articuladas, o que faz com que eles saibam como abordar vocês. Temos muita energia boa circulando na Biko, as pessoas que chegam aqui se sentem muito bem de estar aqui, independentemente de onde elas vêm. Esse é o papel da Biko. E isso é um resultado do movimento negro brasileiro.”, finaliza o diretor executivo.

A data de aniversário da Biko, segundo, o possível pré-candidato, o vereador e professor, Sílvio Humberto, é um momento de celebração, mas também de luta e desafios que unem gerações. Essas lutas foram iniciadas a partir dos sonhos de um grupo de jovens negros e negras. “Realizamos uma coisa simples sem ser simplória. Aumentamos o número de negros e negras nas universidades. E hoje, temos que pensar na cidade que temos na cidade que queremos e, a partir da nossa movimentação e nossas experiências, acabar com o pacto narcísico que está por trás dessas ações que querem destruir nosso povo”.  

Dessa forma: “É importante que nós, que vocês jovens negros, saibamos que nosso desafio e nos mantermos vivos. Não podemos aceitar, muito menos naturalizar a violência. Sendo assim, estamos nesta luta, com nossas camisas verdes, dizendo que não há independência, nem liberdade sem nós, portanto, nosso principal desafio, ainda hoje, além de nos mantermos vivos, é conquistar a liberdade e a igualdade”, afirma Sílvio. 

O pacto narcísico, referenciado pelo vereador Sílvio Humberto também perpassa, segundo a professora e historiadora, Jaqueline Queiroz, por pensar e agir de forma coletiva. Um agir que vem de muito tempo, sem, contudo, deixar de priorizar a felicidade da população negra. “Nosso projeto é coletivo, que vem sendo construído há muito tempo. A independência não aconteceu sem nós, nosso povo foi protagonista. Temos sempre que lembrar que contrariar e subverter as estatísticas é resistir, portanto, estar nestes espaços é uma subversão, mas também precisamos colocar a felicidade como um objetivo, um direito, pois não se trata de algo meramente no campo abstrato, tem que ser real”. 

A professora Maiana Lima, reforçou que a violência e a matança de pessoas negras fazem parte de um projeto. “Todos nós sabemos que o Estado tem um plano: nos matar. Estamos resistindo. Resistindo desde os quilombos, a única estrutura que foi capaz de desafiar o Estado. Então, precisamos nos organizar em quilombos para continuarmos vivos e vivendo feliz e com qualidade”.

O espírito de acolhimento da Biko é ainda capaz de capacitar e curar, segundo o estudante da turma Maria Felipa, Martinho de Souza, o encontro com a Biko o tirou da depressão. “Eu estava com depressão, então pensei que a melhor coisa que podemos fazer é o social, cuidar da ancestralidade e a Biko faz isso muito bem, que é o essencial e nos permite ser parte da sociedade. E serei parte disso em breve, pois vou ingressar em um curso de medicina, por isso estou aqui estudando. Eu tenho meu filho, 22 anos, como grande incentivo, que cursa o 8º semestre do curso de direito”. 

NOSSA HISTÓRIA 

O Instituto Cultural Steve Biko é fruto de um sonho coletivo de professores e estudantes negros e negras que, na luta contra o racismo estrutural, visavam a inserção da população negra nas universidades públicas, como estratégia ascensão social e o combate à discriminação racial, a partir da criação do primeiro curso Pré-vestibular voltado para negros no Brasil. Um resultado nascido nos bancos do jardim da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), balizado nas lutas antirracistas ao redor do mundo, e da urgente necessidade de reunir a militância negra no âmbito nacional ao redor da Educação. São 31 anos do resgate e valorização dos valores ancestrais africanos e afro-brasileiros dos envolvidos no projeto Biko, por meio da Educação, fundamentada no Movimento de Consciência Negra, difundido pelo sul-africano Bantu Stephen Biko na África do Sul, que dá nome ao Instituto Cultural Beneficente Steve Biko, homenagem a um dos mais ferrenhos combatentes contra o regime de segregação racial do Apartheid do seu país,

Como pedagogia, o Instituto diferencia-se ao incluir na sua grade curricular a disciplina Cidadania e Consciência Negra (CCN), que em sala de aula pauta a autoestima e as lutas do povo negro no combate ao racismo. Na disciplina, estudantes são levados a resgatar a cultura afro-brasileira, destacando a religiosidade, a ancestralidade e trajetória de ativistas referências na luta contra as desigualdades. Com isso, a Biko busca influenciar a postura e pensamento dos jovens negros.

Atualmente, o Instituto Cultural Steve Biko tem o reconhecimento de organizações dos movimentos sociais na Bahia, no Brasil e, também, fora do país. Comprovado com o agraciamento do Prêmio Nacional de Direitos Humanos, em 1999, e o Prêmio Cidadania Mundial, outorgado pela Comunidade Bahái do Brasil, em 2003. Os projetos da Biko são financiados por meio de apoio de Instituições e empresas nacionais e internacionais, além de investimento social de pessoas físicas de diversos lugares no mundo.

 

NOSSAS AÇÕES   

- Curso Pré-vestibular: Todos os anos prepara cerca de 75 jovens negres, negros e negras para ingresso nas Universidades;

- Programa Oguntec: Que em parceria com escolas estaduais, forma anualmente cerca de 100 estudantes nas áreas das Ciências e Tecnologias;

- Programa de Intercâmbio: Consiste na troca de experiências, com a realização de visitas, palestras, entre outras ações, com estudantes negros e negras de outros países.

- Afroaporte: Visa fortalecer empreendedores e empreendedoras negras no desenvolvimento de suas atividades econômicas impactadas pelos efeitos da pandemia da Covid-19.



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