O mês de setembro na Biko foi de agenda cheia. Começamos com a segunda edição do “Encontros com Biko”, no dia 12/09, discutindo o “Movimento Negro Educador: contribuições civilizatórias para o Brasil”, com a ilustre presença da griot e primeira sócia doadora da Biko, professora Ana Célia da Silva, também na companhia do nosso presidente de honra, Silvio Humberto e do gestor administrativo da Biko e doutorando em Educação, George Oliveira. Nosso encontro, também marcou o aniversário de morte de Steve Biko e sua luta antirracista, foi potente, emocionante e com relatos enriquecedores.
“Estamos aqui para manter o esse legado vivo, essa energia necessária que é fundamental para seguir com o que Biko chamava de Consciência Negra, que vai além da pigmentação da pele. É uma atitude mental”, como pontuou Silvio Humberto.
A professora Ana Célia da Silva relembrou a importância do Instituto Cultural Steve Biko na criação da Política de Cotas na UFBA e na construção de ações afirmativas de educação. “A disciplina CCN (Cidadania e Consciência Negra) começou na Biko e se espalhou por todas as instituições negras que eu conheço”, lembra.
O gestor da Biko, George Oliveira relembrou a sua trajetória na Biko, quando chegou há mais de 20 anos como um aluno questionado: “Por que um curso só para negros?”. “Eu nunca tinha estado em um ambiente onde os estudantes eram negros e todos os professores também. Isso era novo para mim. Mas ao longo do tempo fui compreendendo que era necessário”, relembra.
No dia 19/09, Na sequência do “Encontros com Biko”, recebemos nossa prata da casa, o professor, etnolinguista e Doutor em Letras, Ivo Ferreira, que falou sobre “As africanías e a superação do eurocentrismo”. O professor Ivo esclareceu como o discurso eurocêntrico tenta apagar a nossa cultura, afro-brasileira, e também destacou a importância da preservação e manutenção das africanidades, que é todo o legado iconográfico que os africanos/as trouxeram de África e que aqui “fizemos do nosso jeito”, que são as africanías. “E daí que vem a nossa baianidade. É o nosso jeito de ressignificar África”, completa.
Envolvidos pela africanidade e africanías, dia 26 foi dia de mais um “Encontros com Biko”. Cruzamos o “Atlântico afrobaiano de Dorival Caymmi (Bahia) e Angelique Kidjo (Benin) " com o Prof. da UNEB, Dr. em Literatura e Cultura Afro-brasileira e Africanas, Marielson Carvalho. Estudioso da obra de Dorival Caymmi com dois livros publicados: “Caymmianos – personagens das canções de Dorival Caymmi” e “Acontece que eu sou baiano: identidade e memória cultural no cancioneiro de Dorival Caymmi”.
“Como negros baianos, professores e pesquisadores negros precisamos fazer essas análises e críticas em relação ao povo negro, às relações étnico-raciais e de gênero”, destaca Marielson
Painel
Saindo dos “Encontros com Biko”, vamos direto para as atividades do pré-vestibular. Em sua terceira edição, realizada no dia 24/09, o Painel das Profissões reuniu profissionais bikudes da área de Ciências Exatas. Um time de peso formado pelo Prof. Drº em Engenharia Ambiental, Igor Miranda; o matemático e especialista em Educação Matemática, Jean Lazaro; a engenheira civil, Vanessa Marques de Carvalho e o graduando em Engenharia de Controle e Automação, Bruno Cupertino.
Os alunes tiveram a oportunidade de tirar dúvidas sobre cada profissão e aproximaram-se ainda mais da ciência e da tecnologia.
Oguntec
E ainda sob o ritmo da ciência e tecnologia, a turma Celeste Bispo do projeto Oguntec teve trilha formativa de comunicação e redes sociais, realizada nos dias 19 e 26 de setembro, com a jornalista e assessora da Biko, Camila França. Na oportunidade os estudantes foram orientados sobre “netiqueta” – etiqueta na internet -,mentoria sobre como utilizar as redes sociais para a divulgação das atividades desenvolvidas nos cinco desafios do projeto: acessibilidade, resíduos sólidos, uso e reuso da água, história e energia, além de trabalhar técnicas audiovisuais. A convite da orientadora, participaram da trilha formativa a também jornalista, colunista do Jornal Correio e mestra em Cultura e Sociedade, Midiã Noelle, o jornalista da Tv Baiana e criador de conteúdo, Emerson Miranda e a cineasta Jamile Coelho da Estandarte Produções.
Como atividade final da trilha formativa, os alunes foram estimulados a produzir vídeos sobre os seus desafios. “As redes sociais são uma vitrine para a divulgação de trabalho científico e devem ser exploradas. E há pouco conteúdo de ciência e tecnologia nas redes, sobretudo produzido por jovens negres. Vê-los empolgados com o domínio das técnicas e aplicando nas atividades foi muito estimulante”, pontua a jornalista Camila França.
Ao final do desafio, em novembro de 2020, os alunes irão produzir conteúdo audiovisual para um perfil no Instagram, desenvolvido genuinamente por eles e com orientação dos tutores.
Biko na Cabeça
Fechando as atividades do Setembro Bikudo, mergulhamos na Live do projeto “Biko na Cabeça” sobre acolhimento psicossocial abordando o tema “Aspectos psicossociais da violência” com o psicólogo e mestre em Psicologia Social, Valter da Mata e a assistente social e doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos, Caroline Ramos do Carmo sob a mediação da graduanda em Psicologia, Beatriz Inarê.
“Cuidar da saúde mental não deveria ser um privilégio, todes deveriam ter acesso, afinal, precisamos aprender a lidar com nossos conflitos e promover o autoconhecimento, sobretudo para a comunidade negra, que sofreu e sofre muitas violências ao longo da história”, como afirmou Beatriz.
O Projeto “Biko na Cabeça” já atendeu mais de 300 pessoas desde o seu lançamento, em junho até agosto, totalizando 927 sessões de acolhimento.
Salve setembro de grandes encontros e realizações e que a primavera nos traga outubro com novos desafios a serem vencidos com a garra e o companheirismo típicos dos Bikudos, afinal, “juntos somos inquebrantáveis”.