Aproximação, ancestralidade e conhecimento foram as máximas da tradicional “Trilha ancestral: Caminho das Folhas”, realizada no último domingo, 03 de setembro, no Parque São Bartolomeu, Subúrbio Ferroviário de Salvador. Com expressiva participação de estudantes, professores e a diversidade de pessoas de toda a comunidade soteropolitana, a Trilha Ancestral mostrou a importância da interdisciplinaridade entre o conhecimento acadêmico formal e os saberes ancestrais da comunidade negra.
Ao todo, foram cerca de dois quilômetros, observando a mata atlântica no coração de Salvador. De acordo com a coordenadora do Pré-vestibular, Cristiane de Paula, a Trilha Ancestral, uma atividade do programa de Acesso a Bens Culturais, é realizada no Parque São Bartolomeu, por ser um espaço sagrado para a comunidade negra de Salvador. “Foi um percurso gratificante, positivo e enriquecedor”.
“O parque São Bartolomeu é o nosso Quilombo, nosso local de culto à ancestralidade, além de ser uma ação importante para o processo de aprendizado dos nossos estudantes, que através da aula de campo envolvendo as disciplinas de Química, Biologia, Matemática, Geografia, Física e História, a Trilha possibilitou uma manhã de conhecimento e também de integração entre estudantes, professores e a equipe pedagógica da Biko”.
A escolha do Parque São Bartolomeu tem a ver com a inserção deste lugar sagrado no hall de lugares possíveis na rota para o conhecimento, o cuidado ambiental, cultural e ancestral em Salvador. É importante incentivar a visitação, pois o Parque é um lugar cercado de encantos, contudo não está na rota de turismo da capital da Bahia.
Para o diretor de Comunicação, e professor de redação, do Instituto Cultural Steve Biko, Ivo Ferreira, anualmente, o Instituto realiza, por meio da Trilha Ancestral, a conscientização dos estudantes que estão na caminhada preparatória para o ENEM e “a ida ao Parque São Bartolomeu é simbólica, conecta os nossos com o local que é histórico e sagrado para a ancestralidade negra”.
O diretor afirma que além da conexão com a ancestralidade, com os antepassados, as aulas a céu aberto, com conteúdos requeridos pelo Enem, promovem integração e mostram como esse sítio é importante para uma cidade, uma metrópole como Salvador.
“A Trilha Ancestral mostra para a população negra, e para a população de Salvador em geral, que o Parque São Bartolomeu é um instrumento muito interessante para todos e todas e que não está sendo utilizado como deveria. Temos um manancial gigantesco: a água, que é essencial para a vida está sendo poluída. As cachoeiras no interior do parque estão sendo depósitos de esgotos domésticos. Os Governos estadual e municipal têm que acordar para isso, um bem sagrado como a água não pode ser tratado dessa forma, assim como, a fauna, a flora e as comunidades do seu entorno. O Parque é também importante do ponto de vista cultural, histórico e sociológico. O parque São Bartolomeu não pode ser relegado ao segundo plano dentro da cidade de Salvador”, concluiu Ferreira.
Aula de matemática a partir das fórmulas presentes no Parque São Bartolomeu./ Imagem Ascom ICSB
Mais sobre o Parque São Bartolomeu: Um dos lugares mais bonitos de Salvador, o Parque São Bartolomeu. Mas, apesar disso, é quase desconhecido em Salvador. Além de ter importância significativa para a cidade, pois é um dos grandes remanescentes da Mata Atlântica em área urbana do Brasil. Reúne quatro cachoeiras e a barragem junto ao Rio do Cobre. A sua criação foi em 1978 via decreto e em 2001 tornou-se a área de proteção ambiental.
A área já foi habitada pelos tupinambás. No século XVII, foi palco da invasão holandesa e depois virou território para os quilombolas com a formação do Quilombo do Urubu, onde viveu Zeferina, escravizada protagonista da Batalha de Pirajá. O Parque está localizado entre os bairros de Plataforma e Pirajá. Mas a entrada principal é no Centro de Referência, na Suburbana.
A trilha - Serve de incentivo para que as pessoas conheçam toda a área ambiental.