Em alguns dias o ano letivo do Pré-ENEM da Biko chegará ao fim e a turma Edson Cardoso se prepara para marcar o 27º ano do principal projeto do Instituto, com grandes expectativas e resultados para além da formação acadêmica. Além de Biologia, Matemática, Física, Linguagens, os estudantes que passaram pela Sala 2 da Biko em 2019 ganharam um novo caminho pra seguir: a consciência de serem futuros profissionais negros e negras com o compromisso de retornar o conhecimento pra suas comunidades.
“A Biko prepara o aluno não só com essas matérias, mas para que nos reconheçamos como negros, moradores de periferias. Não tinha essa proporção de consciência que tenho hoje”, diz Cledson Silva, de 30 anos. Morador do bairro de Amaralina, Cledson chegou à Biko por indicação de um primo que também já passou pelo Instituto. “Antes de ser aluno eu já sabia que aqui era um espaço formador de seres humanos. Quanto menos soubermos de nossos direitos melhor será para quem gere nosso país, então, eu pretendo atuar com minha devolutiva social, ensinar outras pessoas”, diz Cledson, que tenta uma vaga para cursar Direito, com foco na Uneb.
Para Laryssa Cardoso a chegada à Biko também veio por indicação. Com 18 anos, essa é o terceiro ENEM e o primeiro ano de Biko. “Aqui as pessoas contribuíram muito com a formação de minha identidade, minha relação com minha religião e família, sou outra pessoa. Pretendo ingressar na área de Saúde, Biologia, Medicina, ainda estou decidindo. Aqui temos a certeza de que temos que ser respeitados, a Biko fortaleceu muito minha autoestima”, disse.
Disciplinas básicas, apoio social e psicológico também estão na conta dos bikudos. Também pela primeira vez no Instituto, Thaylane Nery, de 19 anos, já entendeu a diferença em sua vida. “Vim de escola pública e, em nove meses aqui eu já percebi que tenho muito mais base pra fazer o ENEM, ganhei muito mais que a escola poderia me proporcionar. Nos tratar com importância, falar de nossa capacidade, nossa história...quando estou aqui, tudo está melhor”, conta a estudante que também decide qual caminho seguir na área de Saúde. “A pessoa que sou hoje é muito melhor do que eu era. A gente vai engolindo muita coisa na vida e tem hora que a gente precisa dizer um basta e como apoio psicológico que tive aqui vi que é possível”, conta Thaylane.
O apoio também tocou Marcos José Maciel, de 20 anos, que busca a Psicologia. “Lá fora a hierarquia é branca, aqui é outra. Aqui, outras coisas são importantes: o companheirismo, o nosso valor e reconhecimento, CCN, isso me ajudou bastante. Posso fazer tanta coisa com Psicologia, quero estudar as diversas experiências humanas. Tenho a Biko como minha referência e quero a Uneb ou a Ufba”, afirma confiante.
Com cerca de 70 alunos anualmente, o pré-ENEM da Biko os prepara para as provas e para exercerem suas cidadanias negras na sociedade, a partir da disciplina Cidadania e Consciência Negra – a CCN.
As inscrições para o Processo Seletivo são feitas no início de cada ano, com aplicação de provas e aulas.