Intercâmbio - Abe, Chris, a vivência na Bahia e a troca com nossa realidade negra

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Intercâmbio - Abe, Chris, a vivência na Bahia e a troca com nossa realidade negra

Intercâmbio - Abe, Chris, a vivência na Bahia e a troca com nossa realidade negra


A edição do Programa de Intercâmbio da Biko 2019 com a Pitzer College chega ao fim. A Pitzer College é uma universidade norte-americana de artes liberais em Claremont, Califórnia que se estenderá nos próximos anos. A instituição tem uma ênfase curricular nas ciências sociais, ciências comportamentais, programas internacionais e estudos de mídia. O Programa é contínuo no Instituto, construindo pontes na diáspora africana.

Desta vez, dois estudantes estiveram por aqui - Christopher Estrada-Salazar e Abraham Asante -, que chegaram em pleno São João e já puderam vivenciar a cultura nordestina. Para recebê-los, a Biko convidou famílias negras parceiras do Instituto, para acolhê-los ao longo de suas permanências aqui. Foram três famílias, que compartilharam seu dia a dia, a culinária, a vivência em família. “Estou muito feliz e agradecida à Biko por me permitir, mais uma vez, essa oportunidade do Intercâmbio. Por conhecer pessoas tão especiais de culturas diferentes”, disse Ângela Cristina, que pela terceira vez recebeu estudantes do Programa.

 

 

Para Rita de Cássia Pereira Santa Rita, que também os acolheu e os levou para a Chapada Diamantina, a vinda deles e a troca com a Biko tem uma responsabilidade bem maior. “Esse momento que vivemos no país tem exigido da gente relações de fraternidade, solidariedade pra enfrentar uma nova faceta do racismo. Acredito que vocês dois também tem o compromisso de, mesmo lá, manter e fortalecer o diálogo com a Steve Biko, com as famílias, sendo interlocutores para o mundo da resistência do povo negro brasileiro contra o racismo”, enfatizou para eles.

Para Abraham, que já traz os trejeitos e falas de um jovem baiano comum, a experiência foi enriquecedora. “Quando cheguei aqui ainda não tinha noção do que seria a experiência, mas ao conhecer a Biko, os estudantes, me encantei com a direção que a Biko vem tomando, estou ansioso para ver o que esta Instituição ainda poderá se tornar. Estar com as famílias, vivenciando esse dia a dia deles foi muito importante pra mim, conhecer essa cultura, me ajudou muito com o Português. Uma cultura forte e linda, uma profunda conexão com a África e, pra mim, que sou de Gana, foram muitas lembranças e semelhanças ao andar pela cidade, ver as pessoas. O mais especial, pra mim, foi a possibilidade de me comunicar com as pessoas aqui, quando eu voltar com certeza direi aos meus que Salvador é um destino especial”, disse Abraham. Em Português, Abe – como ficou sendo carinhosamente chamado – disse não ter palavras pra agradecer a Biko por tê-lo ajudado a entender mais de si mesmo e ter uma mente mais aberta.

O pai de Abe também veio acompanhar a finalização do Programa, junto ao filho. “Muito poderoso e recompensador, uma tremenda oportunidade que ele vem me contando, principalmente quando das viagens ao interior. Sua primeira experiência de Intercâmbio. Não conhecia a Biko, mas entendo que é um trabalho essencial,  educar pessoas com a africanidade presente é muito valioso”, disse James Catena.

 

 

Para Christopher – o Chris – também foi a primeira vez em um Intercâmbio. “Amei tudo aqui, não conhecia nada além de um pouco de Candomblé e Capoeira, não conhecia a Biko também e o que vi aqui foi um Instituto que tem uma responsabilidade com muitos jovens, ajudando-os a transcender suas limitações. Vi muitos jovens lutando para chegar a um lugar onde a sociedade diz que eles não pertencem, onde não devem estar e como nos EUA, aqui no Brasil a Educação Superior é o caminho para se erguer na sociedade. Serem formados com os ideais de Steve Biko quanto à Consciência Negra é fascinante. Eu, pessoalmente, não tinha contato com essa Consciência e pra mim foi fundamental. Na verdade, agora quero concorrer a uma Bolsa Fullbright para voltar em 2020 e ensinar inglês em alguma Universidade e na Steve Biko, onde realmente quero”, disse Chris.  

Foram seis semanas de Programa, que terminam nesta quinta (18). Neste tempo, aprender o Português foi uma das principais atividades. Na Diálogo Brazil - Portuguese Language School in Bahia, eles saíram do 0 para, hoje, conseguirem se comunicar, ainda que basicamente. “Pra nós, receber este convite de participar do Intercâmbio, foi muito bom, ver isso se realizar, receber estes dois jovens maravilhosos acrescentou muito pra nós”, disse Gisele Reis, diretora da Escola.

Eles também tiveram contato com o ensino na Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, Escolinha que educa crianças a partir de outros marcos civilizatórios, valorizando a ancestralidade – a influência ameríndia e africana em nossa formação sócio-cultural. Tiveram aulas com o Mestre Mario Pam, de Percussão, de História com os professores Guimário Nascimento e Jéssica Paranaguá, além de trocarem conhecimentos com os alunos da Biko, deste ano e de outras turmas – os chamados Parceiros de Aprendizagem.

 

Luciana Reis foi uma delas. “Já havia tido uma experiência de Intercâmbio por uma ONG, mas aqui não se compara a dimensão de conhecimento que pude ter com eles. O Intercâmbio funciona sim como um auxiliar para aprender outras línguas. Aprendi muito com as diferenças e com a história, principalmente a que Abe trazia por ser africano, me identifiquei muito com sua vivência e com suas memórias”, disse a estudante, que integra a turma 2019 do Pré-ENEM da Biko. 

Ana Luisa Dias, que passou a coordenar o Programa este ano, fala sobre a experiência. “Um grande sucesso, importante passo pra Biko. Momento em que parcerias que já existiam foram fortalecidas – como as famílias, os professores – mas também de novas parcerias, como a Escola de Português, a Maria Felipa, incluindo os estudantes da Biko que são o grande sentido para o Intercâmbio existir. Conseguimos envolvê-los numa troca de conhecimento, de afeto, de acolhimento, de sentidos pra todo mundo. Os intercambistas, ao longo destas seis semanas, estiveram abertos, saíram de suas zonas de conforto, mergulharam em nossa realidade e se conectaram com muitas pessoas, fizeram amigos, e os bikudos também compreenderam outras realidades e estão mais dispostos a prender inglês, viajar. A grande contribuição do Intercâmbio, pra mim, é a quebrar mais essa barreira mental que o racismo nos coloca”, resume a coordenadora, Ana Luísa Dias. Em agosto, o Programa de Intercâmbio continua, recebendo mais estudantes e professores.  

Confira nossa galeria dessa trajetória! Fotos de Gleisson Santos, Beatriz Reis, Ana Luisa Dias e Jamile Menezes

 

 



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