Quem são seus ancestrais?

Quem são seus ancestrais?

Quem são seus ancestrais?


Você conhece seus ancestrais de África? Sabem a origem deles? A crença cultural e religiosa que eles praticavam? A resposta, da maioria de nós, é óbvia: não. Não temos nenhum conhecimento especifico acerca de nossos ancestrais. 

Passados quase 136 anos da “Abolição da Escravidão”, a população negra brasileira ainda tem grandes dificuldades de formular a sua árvore genealógica, uma consequência nefasta do período colonial e de suas práticas desumanas, que dividiu negros e negras, criando uma ferida incurável até os dias de hoje.

Mas você deve estar se perguntando: qual a importância de formular uma árvore genealógica e como isso interfere na formação da sociedade brasileira? Trata-se de uma reparação de cerca de 4,9 milhões de pessoas, que foram trazidas para o Brasil, por meio da travessia do Atlântico, a bordo de embarcações em condições sub-humanas, causando traumas e uma profunda rachadura na história das gerações, cujo legado imposto foi da escravização dos seus. 

Esse legado de escravização implica, ainda hoje, que a população preta e parda brasileira continue a escrever diariamente suas histórias a partir de um livro branco, no que se refere às origens genéticas. Isso porque, a crueldade da escravização separou, para enfraquecer, os diversos grupos étnicos africanos sequestrados de África e enviados para as terras brasileiras, o que baliza o vazio de informação acerca de onde viemos e de qual grupo étnico pertencemos.

Mas, na contramão das estatísticas, existem iniciativas que têm proporcionado, a algumas pessoas negras, na realização de um mapeamento genético. O que permite saber mais de suas origens, por meio de um teste genético ancestral que, mesmo inacessível para a grande massa de brasileiros e brasileiras, por ser de alto custo, tem dado esperança de saber suas origens ancestrais africanas.

Na tentativa de diminuir esta inacessibilidade, o professor Steve Biko, que leciona no Instituto Cultural Steve Biko, (o nome de ambos é homenagem ao líder sul-africano), desde 2023, resolveu presentear um dos estudantes com o teste genético para que ele soubesse mais sobre sua ancestralidade. “É importante a gente ter o conhecimento sobre a nossa origem, pois é uma peça central para entender e saber realmente quem a gente é, pois envolve questões de autoafirmação e de como somos representados. A população preta que chegou aqui no Brasil tem o passado apagado, nós sabemos que viemos da África, mas não sabemos exatamente de onde. A África é um continente muito diversificado, têm inúmeros países, têm culturas diferentes, então, é importante o aluno resgatar um pouco da sua origem para também tentar entender um pouco de onde ele veio e de quão bonita é a cultura e o país que ele veio”, afirma o professor.

O teste de ancestralidade foi presenteado para o estudante do Pré-vestibular da Biko, da Turma Maria Felipa 2023, Pedro Silva, 23. O feito do ganhador foi ter tirado a maior nota em uma prova de Ciências Naturais.  De acordo com Pedro, ele se interessou em fazer o teste, pois viu a oportunidade de saber mais sobre sua história. “Tive interesse em conhecer a história por trás do meu corpo, o conhecimento na sua forma pura, pois, dessa forma, temos a possibilidade de seguir para um novo capítulo, com consciência da sua história, de onde você veio e o que pode te levar a novos caminhos”.

Como o teste genético de ancestralidade é realizado?

Segundo o professor Steve Biko, o teste é bem simples. O solicitante recebe um kit que traz uma suabe (uma espécie de cotonete), responsável por coletar o material na parte interna da mucosa bucal, um dos locais onde é possível a coleta da célula, composta de DNA que será extraído. A partir deste DNA, será possível investigar padrões que vão remeter a populações da Europa, da África, da América, da Ásia e da Oceania. E, em cima desses padrões, tem-se a porcentagem da ancestralidade do DNA. O teste foi realizado pelo laboratório Genera, um dos que realiza a investigação genética no Brasil.

No caso do Pedro, a porcentagem genética do teste dele correspondeu a 27% Nigéria e Gana, 14% Guiné e Serra Leoa, 12% Quênia, Moçambique, 11% Congo, Angola, Camarões e 2% Uganda, Etiópia e Tanzânia.

Projeto Brasil: DNA África

Uma das iniciativas no Brasil, que despertou a possibilidade de retomada da identidade da população negra brasileira e, amplamente divulgada, foi o projeto Brasil: DNA África, realizado pela Cine Group de investigação da origem dos afrodescendentes brasileiros no intuito de reconstruir a identidade de cada um.

O projeto escolheu 150 pessoas dos cinco estados brasileiros que mais receberam africanos escravizados: Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão, Minas Gerais e Pernambuco. Desses 150, a maioria deles sendo militantes da causa negra no Brasil, cinco foram selecionadas, uma de cada estado, para a série de documentários.

Um dos objetivos do projeto era realizar filmagens para investigar a origem de cada um por meio de três vertentes: histórica, cultural e científica, e possibilitar, ao final, todos uma viagem ao país de origem de seus descendentes e um contato direto com a etnia original, fazendo com que se estabeleça um laço com as raízes.

O Instituto Cultural Steve Biko parabeniza a iniciativa do professor Steve Biko e deseja que mais pessoas pretas e pardas possam acessar o teste ancestral genético e entendam seu passado de forma aprofundada.



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