Mais 29 estudantes negros e negras formados pelo projeto Oguntec, do Instituto Steve Biko. Um projeto que há mais de 15 anos vem proporcionando formação cidadã, científica e tecnológica a jovens de Salvador. Desde 2017, o projeto acontece no Colégio Edgar Santos, no bairro do Garcia e, com o patrocínio da Dow Química, tem estudantes do curso técnico de Administração como seu público alvo. A cerimônia de Certificação aconteceu neste sábado (14), no Museu Eugênio Leal, no Pelourinho e foi aberta com apresentação pocket do projeto Tambores do Mundo, do maestro Mario Pam.
A turma Celeste Bispo passou todo o ano divida entre os Desafios Acessibilidade, Gestão dos Resíduos Sólidos, Uso e Reuso da Água, o uso consciente da Energia Solar e a História do Bairro. Em 2019, os estudantes se concentraram na formação teórica em cada grupo para que, em 2020, possam colocar os Desafios na prática e apresentar à comunidade suas ideias inovadoras.
“Me sinto mais preparado e com objetivos diferentes de quando entrei. O Oguntec me deu a oportunidade de pensar diferente, buscar uma formação profissional e a acadêmica melhor pra quando entrar na Universidade”, disse Misael Santos, do Desafio de Energia. “Trazer pra eles o conhecimento que tenho foi uma experiência necessária. Meu desafio foi permanecer incentivando os alunos, acreditando no potencial de cada um e sou testemunha da qualidade e capacidade deles. Espero que em 2020 as ideias sejam bem sucedidas”, elogiou Ednaldo Tavares, tutor do Desafio.
Após visitas a instituições e projetos sociais, além de encontros com pesquisadores, que serviram de complementos para os ensinos em sala de aula, o Desafio de Energia tem como propostas projetar um sistema fotovoltaico para alimentar o Colégio, além de um curso de energia para mulheres, criação de um carregador para celular utilizando placas solares, dentre outras.
Já Lidiana Campos mudou a forma de lidar com seu consumo e descarte. “O Oguntec nos ajuda a nos posicionarmos como uma pessoa negra na sociedade, conscientes de nossa ancestralidade. Com o projeto, eu fortaleci minha consciência ambiental, já remanejo os resíduos sólidos, faço a compostagem e o projeto foi essencial nisso”, diz a estudante do Desafio de Manejo de Resíduos Sólidos, que está dando continuidade ao trabalho projetado pelas turmas anteriores em prol de uma escola limpa, com compostagem, separação seletiva, campanhas de sensibilização e muitas outras ações.
Os Desafios tem o intuito de elaborar projetos socioambientais para a comunidade escolar em cada temática.
O de Acessibilidade, por exemplo, após mapeamento do Colégio, apresenta uma proposta de ponto de ônibus acessível com totem informativo. O de Desafio Uso e Reuso da Água tem algumas propostas, como a implantação de hortas, a troca de descargas e torneiras para captação de água de chuva, produzir telhados ecológicos de garrafas pet, dentre outras ações. Para a tutora deste Desafio, Indira Matos, a experiência foi um aprendizado. “Eles vieram com vários conceitos novos, utilizaram a legislação e o projeto está incrível pra conscientizar a comunidade escolar e do entorno. Essa experiência me fez crescer muito profissionalmente”, conta a tutora.
"Além do meu crescimento pessoal, o Oguntec me deu conhecimento e coragem, me fortaleceu enquanto jovem negra, me incentivou a lutar em prol das nossas potencialidades. No Desafio eu aprendi muito, sobre a água virtual, sobre como o consumo em excesso nos prejudica, sobra a importância da preservação", disse Brenda Gianni, estudante que integra o Desafio.
A memória e a história do bairro do Garcia foi o foco do Desafio de História que, seguindo o legado das turmas anteriores, deixa artigos, transcrições de entrevistas, pesquisas (acesse aqui) e memorial sobre a comunidade. “Acompanhei a dificuldade e evolução de cada um, a gente aprende com as batalhas deles e, pra mim, foi uma respirada na minha profissão”, diz Jessica Paranaguá, tutora. A diretora executiva da Biko, Jucy Silva, lembrou o cenário de desmonte na Educação que está em curso para frisar a importância do Oguntec. “Um projeto visionário que há mais de 15 anos estamos fazendo aqui, está sendo o diferencial na vida destes estudantes. O que eles não querem é que tenhamos acesso a isso, à Ciência, á Tecnologia, com esse dito novo Ensino Médio. Sem as disciplinas básicas para estes estudos, teremos ainda mais dificuldades de acessar o ensino superior”, disse.
Pensamento seguido pela diretora pedagógica da Biko, Tarry Cristina. “Vivemos um momento de destruição da Educação e os jovens negros estão na frente desse embate. Escolas de ensino médio estão se fechando, fecham o conhecimento pra nosso povo. Temos uma missão e estamos buscando cada vez mais mudar a história com mais pessoas na luta”, pontuou.
O diretor de Projetos, Lázaro Cunha também lembrou a filosofia africana, Ubuntu (“Eu sou porque nós somos). “Quando você entra no Movimento Negro sua alteridade é triplicada. Ver o Oguntec ativo é o que me move, essa troca que existe no projeto é fantástica. Uma atividade de engajamento de troca entre estudantes e tutores. Estamos formando lideranças pra essas comunidades. O Oguntec é pra isso: disseminar, engajar; é de todos que querem ver o sucesso dessa juventude, cidadãos capazes de pensar no outro, ver o outro como ser humano”, disse.
O OGUNTEC se destina a estimular, através de ações afirmativas, a entrada de jovens negros na área da ciência e do conhecimento tecnológico. O nome faz referência ao orixá Ogum, que, para as religiões de matriz africana, simboliza justamente a tecnologia. Desde 2017 o projeto vem tendo o patrócínio da Dow Química. “Esse projeto é um respirar da Dow, mais uma ação de inclusão que nos move. Estamos muito felizes e orgulhosos desses projetos. Coma Biko aprendemos que temos que capacitar nossos jovens pra assumir grandes cargos em nossas empresas, este tem sido nosso objetivo de trabalho. Que Ogum abra o caminho de vocês”, disse aos alunos Alexandre Amissi, representante da Dow.
Em 2020, os estudantes voltam à sala de aula para trabalharem nos projetos e colocá-los em prática.
Confira Aqui mais imagens da formmatura do Oguntec