O aplicativo que objetiva mapear áreas inacessíveis por sistema de geoprocessamento foi lançado em aula aberta por alunos do Programa Oguntec, organizado pelo Instituto Cultural Steve Biko, com apoio do Centro Educacional Edgar Santos, no bairro do Garcia. Na última noite (23), o público pode conhecer as funções do software e discutir sobre as inovações da mobilidade urbana para inclusão racial e de gênero.
Os anfitriões da noite - os alunos Isabella, Alex, Heloisa, Pedro, Sidnei e Wagner expuseram o projeto-piloto do aplicativo AMPT (Acessibilidade Melhor para Todos). “Seja um pessoa com deficiência, uma gestante ou ambulante com seus pertences, é necessário ter acessibilidade para todos na cidade”, reforçou Alex. Ampliando o conceito de acessibilidade, o aplicativo poderá ser usado por pessoas com deficiência ou não para mapear áreas de difícil acesso na cidade.
“Nossa sociedade é desigual e os maiores afetados pela dita mobilidade ativa, a que nos é imposta, é a população negra; mulheres da classe D e E, que são as que mais andam a pé, os idosos, pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e com baixa escolaridade”, descreveu o estudante. Estruturado pelos alunos, do projeto à análise de mercado, o aplicativo começou a ser desenvolvido em 2018 em parceria com o Fundo Casas e a Dow Química. A meta é finalizar o protótipo até dezembro deste ano.
“Estes estudantes se debruçam numa trilha formativa”, contou Tarry Cristina, mediadora da aula e diretora pedagógica do Instituto Cultural Steve Biko. “Jogamos duro, pois sabemos que eles são capazes e esta aula é prova disso. Agora é com eles! O programa Oguntec não nos pertence mais, mas, a todos que integram este saber”, afirmou. A apresentação contou com intérprete de Libras para ampliar também o acesso à informação e tecnologia.
Mobilidade urbana, raça e gênero
A geógrafa e educadora social do pré-vestibular Quilombo do Orubu Lorena Cerqueira, e também moradora do bairro do Garcia, descreveu como a população negra se deslocou ao longo do tempo para as periferias das cidades. “Devido aos estereótipos, nossas identidades são sempre lidas como periféricas; não temos nomes, mas endereço. Ainda assim, não podemos esquecer que estamos em trânsito”, pontuou Lorena.
“Esses espaços possuem diferentes formas de nos violentar, desde as questões de acessibilidade a tarifa do ônibus é uma das formas do racismo institucional que determina como transitamos pelos espaços, como os perigos de se andar à noite na rua enquanto mulheres negras”, relatou. As reflexões trazidas por Lorena realçam a discussão sobre como o aplicativo pode ser utilizado.
À frente do projeto “Preta, Vai de Bike”, Livia Suarez, voltou-se para incluir as mulheres negras no projeto de mobilidade urbana a partir da bicicleta. “A partir de uma pesquisa reduzida, chegamos ao entendimento de que precisávamos incluir as mulheres”, disse Lívia. Livia, que é também cicloativista cultural criou a Casa La Frida, localizada no Santo Antônio Além do Carmo, e desenvolveu o projeto que já capacitou cerca de 500 mulheres negras nacional e internacionalmente.
A ideia surgiu de uma cafeteria em duas rodas, se ampliou até chegar ao mundo. Além de ensinar mulheres negras a andar de bicicleta, as participantes também foram capacitadas para mecânica. O projeto desenvolveu, inclusive, um capacete voltado para cabelos afros. “Nosso projeto hoje atende as diversas questões que envolvem a população negra, como a autoestima, o afeto - a partir do bike sharing, um serviço de compartilhamento do veículo para ampliar nosso lugar na mobilidade”, reforçou Lívia.
AMPT
Ainda na aula aberta, o aplicativo que está em fase de testes, foi apresentado ao público. Já na primeira tela, o app permite que o usuário configure a melhor forma de visualização, pensando em como a tecnologia pode garantir a melhor experiência do usuário. Os interessados podem criar um perfil, em que pode carregar imagens para avatar e capa.
No tutorial, os estudantes expuseram como realizar denúncias a partir da geolocalização sendo possível também categorizar, com base no compilado das 120 páginas das Lei Municipal de Acessibilidade. O usuário poderá carregar imagens da região com problemas de mobilidade além de ter campo para detalhar a problemática. Como estratégia de engajamento, foi desenvolvido um sistema de pontuação em que o usuário que mais indicar áreas inacessíveis é pontuado.