Que a Biko inspirou e ainda inspira muitos jovens negros e negras em Salvador, na Bahia e no Brasil, isso é fato. Essa inspiração fundamentou, inclusive iniciativas em comunidades de Salvador e até na Ilha de Itaparica.
Com o conceito de Quilombos Educacionais, ou seja, locais em que a ideologia e a metodologia – além da estrutura – sejam pensadas em torno das especificidades da comunidade mais vulnerabilizada, especialmente, dos indivíduos negros e negras, a Biko incentivou a criação de cursinhos pré-vestibular e até hoje continua a inspirar essa rede.
Para Jucy Silva, diretora executiva do Instituto Steve Biko e coordenadora pedagógica do Fórum de Quilombos Educacionais da Bahia (Foquiba), este modelo educacional, "feito por e para negros e negras, lançado há 25 anos pela Biko, é o que fez a diferença nas comunidades e o que ampliou a Cidadania e a Consciência Negra de jovens estudantes que se preparam pra ingressar em um território nada acolhedor para estas realidades: o Ensino Superior".
Na Ilha de Itaparica, o Quilombo Ilha se destaca. Fundado em 2006 por um grupo de professores, o Quilombo tem se pautado na Educação Afirmativa: aquela que busca, em sua metodologia, o debate frente às desigualdades e a garantia de oportunidades em detrimento da discriminação e marginalização desta juventude negra.
Já beneficiou direta e indiretamente a mais de dois mil jovens – negros e negras de baixa-renda, moradores da Ilha de Itaparica. “São 11 anos, com mais de 500 aprovados nos vestibulares. A disciplina CCN - Cidadania e a Consciência Negra - é o nosso diferencial e tudo funciona como a Biko. São 18 professores, dentre eles alguns da própria Biko, que sempre foi o nosso referencial”, diz Renato dos Santos, coordenador e vice presidente do Instituto Quilombo Ilha.
Os objetivos são comuns em meio aos Quilombos: elevação da auto estima dos estudantes; oferecer oportunidade e igualdade de condição educacional; fomentar o acesso e a permanência no ensino superior; preparar para o vestibular estimulando o acesso à Ciência e à Tecnologia; ensino da História da África e da Diáspora; fomentar projetos de Inclusão Digital, Ciência e Tecnologia e Valorização dos grupos étnicos.
Também como a Biko, o Quilombo tem, em mãos, um grande desafio: construir a Sede própria, para o que também estão em plena campanha. O legado é imenso também. O Quilombo Ilha tem aprovado vestibulandos(as) em diferentes áreas, com número expressivo de estudantes nos cursos de licenciatura na UFBA, UNEB e na UFRB, por exemplo: Direito, Medicina, Enfermagem e Engenharia estão dentre as conquistas.
“A Biko foi e é a nossa inspiração e sempre será um divisor de águas na vida do povo negro. Eu, na condição de ex-aluno e eterno professor, levarei o nome da Biko aonde eu for. O Quilombo Ilha e o Instituto Steve Biko são uma só família”, enfatiza Renato.
Além do Instituto Cultural Steve Biko (Pelourinho, o Foquiba reúne o Quilombo Irmã Santa Bakhita (Sussuarana) e o Quilombo do Orubu (Cajazeiras), em Salvador, o Quilombo Ilha, em Itaparica e o Pré -Vestibular Quilombola de Vitória da Conquista.