Representantes do Instituto Solea visitaram o Instituto Cultural Steve Biko, nos dias 27 e 28 de agosto. Na oportunidade, interagiram com os projetos da Biko que apoiam: o Pré-vestibular (Pré-Biko) e o Programa Oguntec Biko, que têm o objetivo de incluir jovens negros e negras em universidades públicas e em carreiras consideradas elitistas, a exemplo de medicina e direito.
O Instituto Solea, sediado no Rio de Janeiro, atua em sete (7) estados do país e tem a compreensão de que “transformação passa por projetos educacionais sustentáveis e equilibrados, capazes de responder positiva e simultaneamente às privações individuais e às condições de resiliência comunitária ou territorial, além de compreende a articulação da educação com outras áreas complementares ao processo de aprendizagem e formação das pessoas”, informa seu site.
No dia 27, as representantes do Instituto Solea, Ana Beatriz Cortez e Roseli Dultra, assistiram a aula do professor Arthur Santos e se apresentaram para os/as estudantes e falaram da importância de estarem com eles/elas. “O objetivo do Solea é investir em projetos sérios. É uma forma de falar para vocês continuarem focados nos estudos, pois os resultados vão chegar”, afirmou Roseli Dultra.
Auda do Pré-Biko 2024/ Imagens: Ascom Steve Biko
Para a coordenadora pedagógica do Pré-Biko, Cristiane Paula, a visita do Solea é importante, pois “os/as estudantes conseguem perceber que outras pessoas acreditam no potencial deles/as e que não estão sozinhos/as". Além de contar com a estrutura da Biko, como professores/as e os/as colaboradores/as do Instituto que sempre estão atentos/as para apoiá-los diariamente”, afirmou a coordenadora.
Com histórico de 100% de aprovação de estudantes do Programa Oguntec, no biênio 2022-2023, o Centro Territorial de Educação Profissional Recôncavo Alberto Torres (CETEP Recôncavo II), da cidade de Cruz das Almas, também recebeu a visitas das representantes do Solea, na quarta-feira (28). O encontro uniu alguns estudantes aprovados, que contaram a experiência que estão “vivendo a universidade”, e os que ingressaram este ano no programa, que falaram do sonho de melhorarem de vida por meio do acesso ao conhecimento e à educação superior.
O CETEP Cruz é uma das 10 unidades escolares beneficiadas com o programa Oguntec, que alcança mais de 100 jovens negros e negras em 4 cidades no Estado, que ganhou destaque apos aprovar os/as 10 estudantes bolsistas. As representantes do Instituto Solea, Ana Beatriz Cortês e Roseli puderam perceber a interação entre monitores/as, estudantes, professores/as e os coordenadores de pedagogia e de tecnologia, que realizam um trabalho ímpar e que tem mudado vidas.
Aula no CETEP - Cruz das Almas/ Imagens: Ascom Steve Biko
De acordo com a coordenadora pedagógica do Oguntec, Cristina Santos, a visita dos investidores é sempre bem vinda. “A visita do Instituto Solea ao Centro Territorial de Educação Profissional Recôncavo Alberto Torres (CETEP Recôncavo II), em Cruz das Almas, foi de fundamental importância. O Instituto, por ser parceiro e apoiador do Programa Oguntec nas escolas públicas, tem beneficiado jovens do 2º e 3° Ano do Ensino Médio com o primeiro acesso à universidades públicas”, falou a coordenadora que complementou: “A turma do Oguntec dessa escola teve 100 % de jovens negros/as aprovados/as em diferentes cursos considerados elitistas. E tudo isso trouxe um grande significado para um território com pouca representatividade acadêmica entre famílias de menor renda”, finalizou.
De acordo com a estudante Gisele Vieira, 16 anos, do segundo ano de informática, o Oguntec tem possibilitado ampliar seus horizontes, tendo a educação como um norte. “O Oguntec está sendo uma experiência muito boa, são novas oportunidades para a gente aprender mais, ter novos conhecimentos, coisas novas também”, relatou Gisele, que ainda está na dúvida de qual curso fará. “Já pensei em fazer medicina, veterinária, fotografia, computação e muitas outras coisas que foram, aos poucos, saindo, mas ainda não decidi o curso que farei”, complementou.
Luma Cruz, 16 anos, do segundo ano de Informática, nos contou que sempre teve a intenção de prestar vestibular e ingressar em uma universidade, mas ia precisar de auxílio nos estudos, por isso, se inscreveu no Oguntec. “Eu cheguei no CETEP com a intenção de fazer faculdade, só que sabia que eu não iria conseguir focar nos estudos sozinha. Eu tentei, busquei as meninas, criamos um grupo que me mandava informações para o ENEM, mas a gente não sabia nem por onde começar a estudar para o ENEM e aí, quando surgiu a oportunidade de me inscrever no Oguntec, eu falei: ‘meu Deus, eu tenho que tentar, eu vou tentar de todas as formas, fazer essa redação para poder passar e ingressar nesse curso por favor, meu Deus’, aí eu orei tanto para que eu conseguisse passar porque eles falaram que só tinha vaga para 10”, contou.
Imagem: Ascom Steve Biko
“A experiência e a oportunidade também como bolsista, proporcionada pelo Oguntec, tem ensinando coisas pra gente que a gente nem sabia que ia cair na prova. Eu tô em dúvida quanto ao que cursar, pois eu entrei pensando em fazer o cinema audiovisual, depois publicidade e propaganda, depois eu fui para arquitetura, foquei em psicologia e, no momento, eu tô pensando em fisioterapia. Não sei, e eu tô muito indecisa, mas eu sei que eles (os professores) vão conseguir me ajudar a centralizar o meu pensamento”, desabafou Luma.
“Eu fiquei apaixonada pelo Oguntec”, afirmou Samuel Dias, estudante de informática, que confessou: “Desde que me inscrevi no Oguntec, eu venho me esforçando nas aulas, vou assistindo, vou tentando fazer atividade, mesmo que seja um pouquinho difícil fazer atividades online. O curso está sendo maravilhoso e eu espero evoluir muito mais e mais, pois eu compreendi que essa é a minha comunidade”, complementou o estudante que pretende fazer o curso de Bioquímica mesmo acredito que não vai ser nada fácil.
Segundo Evelin do Santos, 17 anos, do curso de administração, “o Oguntec é perfeito de todas as maneiras, pois é bem diferente do Ensino Médio, pois não foca muito nos assuntos que irão cair no ENEM, enquanto que no Oguntec são centralizados nos assuntos que irão cair de diversas formas, vários assuntos que eu nem sabia da existência. Meu sonho é cursar alguma área de saúde, mas espero que lá para frente, com toda essa ajuda, que é realmente significante, eu consiga, pois é uma área que eu tenho uma paixão”, reforçou Evelin.
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Mais sobre os projetos
Pré-Biko
O Pré-vestibular do Instituto Cultural Steve Biko foi iniciado em 1992, a partir da criação de uma Cooperativa Steve Biko, gerida por estudantes e professores negros do estado da Bahia. Após 32 anos de criação, o curso Pré-vestibular, já benefíciou muitos estudantes negros e negras da cidade de Salvador, a partir da abertura de editais públicos anuais para inscrições para o processo seletivo do Curso Pré-vestibular Steve Biko para que os selecionados sejam preparados para o acesso ao ensino superior, em formato remoto.
Anualmente são disponibilizadas 75 (setenta e cinco) vagas para turma única, no turno da noite.
Programa Oguntec
O Oguntec é um programa de educação Science, Tecnology, Enginnering and Math/Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) realizado pelo Instituto Cultural Steve Biko e que congrega um conjunto articulado de ações de fomento à ciência, tecnologia e inovação direcionadas para jovens negros /as. A perspectiva é de estimular a incorporação de saberes científicos e tecnológicos ao ambiente cultural desse segmento, preparando-o para interagir com os novos desafios da “sociedade tecnológica” - marcadamente competitiva e lastreada em conteúdos científicos e tecnológicos - aumentando as possibilidades de superação das desigualdades raciais e de gênero, presentes no contexto do mercado de trabalho e distribuição de renda.
Atualmente, o Oguntec está presente em 10 escolas públicas estaduais situadas nas cidades de Salvador, Ilha de Vera Cruz, Lauro de Freitas, Camaçari e Cruz das Almas contemplando um total de 100 estudantes - 10 estudantes por escola.