Pedagoga com especialização em Psicopedagogia Cínica Institucional, Tarry Cristina Pereira tem experiência na área de Educação, com ênfase em Gestão educacional e é diretora pedagógica do Instituto Steve Biko. Está na Biko há 12 anos e coordena a pedagogia antirracista pautada pela Biko em todos os seus projetos – Oguntec, Intercâmbio e o Pré-vestibular.
Neste, também leciona a que vem a ser o grande pilar do Instituto – a disciplina Cidadania e Consciência Negra (CCN). Tarry é certeira na definição da disciplina: “A Biko é a CCN, sem ela não existimos”. Veja o que mais ela explica sobre a disciplina:
Biko – Qual o principal legado desta disciplina na vida dos mais de 5 mil jovens negros e negras que já passaram pela Biko?
Tarry Cristina - Ela promove o resgate da estima e da identidade destes jovens que, por ora, foram tiradas pelo processo da escravidão e pelo processo sócio, histórico e cultural, contado a partir da visão do dominador. Nesta aula, discutem-se várias temáticas, que os ensinam a se perceberem enquanto sujeitos protagonistas de uma história negada pelos livros didáticos, em especial. Os jovens se percebem enquanto sujeitos em movimento.
Biko – E o que a CCN significa no contexto dos 25 anos da Biko e qual seu papel na Pedagogia do Instituto?
Tarry Cristina - Ao longo dos 25 anos da Biko, sobretudo do Pré-Vestibular, nosso diferencial sempre foi a disciplina Cidadania e Consciência Negra. A CCN é uma filosofia de vida – como os próprios alunos dizem. É um repensar histórico de um outro lugar, uma devolutiva da humanidade destes jovens. Esta disciplina é o eixo, perpassa por todos nossos projetos, é com ela que reconstruímos nossa história, a partir de colaboradores das mais diversas temáticas. Primeiro, o jovem se conhece, entende como se dá o processo do racismo neste país. Quando isso acontece, ele vê que é a vitima deste sistema racista e, a partir daí, adentramos em outros temas. São debates sobre a masculinidade e o feminismo negro, como o racismo opera na mente humana e como, em Salvador, ele se manifesta através do mercado de trabalho.
"Com as aulas de CCN, também os ajudamos a compreender o que são políticas de ações afirmativas e como elas atuam para garantir o acesso deles às Universidades, em especial as públicas."
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A disciplina também tem um programa para além da sala de aula: combina dinâmicas de grupos, palestras, exposições dialogadas, apresentação de vídeos e matérias de jornais e sites, Tem também contato direto com a atuação prática do legado do movimento negro brasileiro, por meio das atividades de “Acesso a Bens Culturais”, com ações em campo, visitas interinstitucionais e análise de texto com históricos das organizações a serem visitadas.
A disciplina é ministrada nas aulas do Pré-vestibular todas as sextas-feiras e no Projeto OGUNTEC, aos sábados, no Colégio Edgard Santos (Garcia).