"Esplendor, magnificência, suntuosidade". Este é o significado da palavra "pompa" e também foi a escolha do Instituto Steve Biko para o Projeto Mentes e Portas Abertas - POMPA - um projeto elaborado por diretores, alunos e ex-alunos da Biko. Mas a ousadia não ficou só aí.
O POMPA teve, até então, duas turmas - em 2004 e 2006 - nas quais 42 jovens negros e negras universitários puderam desenvolver suas habilidades de liderança, visando carreiras no setor público e terceiro setor, seja na proposição de políticas públicas em órgãos governamentais, seja na execução de projetos sociais em organizações não governamentais. E deu muito certo.
Um exemplo disso é o ex-POMPA, eterno bikudo, Igor Miranda. Graduado em Engenharia Eletrônica, Igor é pesquisador nesta a área e em Computação, também é professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). Ele nos conta como foi sua passagem pelo projeto.
Biko - O que foi o POMPA pra você, como ele te ajudou a ser quem é e estar onde está?
Igor Miranda - Cheguei na Biko por volta de 2003 para colaborar como professor de Matemática no Projeto Oguntec. Nessa época, aos 20 anos, eu já tinha algumas leituras sobre a questão racial e estava lá porque queria contribuir no progresso da população negra. Mas foi depois do POMPA que pude amadurecer minha militância e ter uma visão ampla dos problemas e soluções relacionados à nossa comunidade, comecei a entender as principais disputas de poder que nos afetam e compreender o papel da liderança nisso tudo. De lá pra cá, fundei startup, trabalhei em empresas, montei grupos de pesquisa e hoje sou professor/pesquisador na Universidade. Foi por conta do POMPA que vivi essas experiências, enxergando a liderança como uma construção coletiva capaz de influenciar significativamente na redução da desigualdade racial. Participar da liderança, em todos os níveis e ambientes, é fundamental para pautar a sociedade que queremos, seja em empresas, pesquisas acadêmicas, coletivos, governos. Além de conquistar, sabemos tomar conta e evoluir o que é nosso? O POMPA deixou essa pergunta em mim.
Biko - O que você via em seus colegas de POMPA naquela época?
Igor Miranda - Eu via uma diversidade fantástica, de formação, de pensamentos, experiências pessoais, de planos para o futuro. Isso não é uma coisa comum, mesmo no ambiente universitário em que, muitas vezes, todos estão disputando as mesmas oportunidades. Dava uma sensação de que cada um teria um papel na evolução da nossa comunidade e se formaria uma grande rede. Acho que isso está se concretizando aos poucos, porque leva tempo mesmo. Montar um grupo tão heterogêneo foi um risco e um grande triunfo dos organizadores do projeto.
Biko - O que mais te marcou no projeto?
Igor Miranda - As aulas do Prof. Carlos Moore foram determinantes para eu construir uma visão globalizada das relações raciais. Aprendi sobre a formação da diáspora negra. Entendi que a maioria das vivências brasileiras com relação à raça também existe em outros lugares do mundo. Foi o lastro pra meu pensamento panafricanista.
"Ninguém tem dúvidas a respeito do poder da educação. Ela é transformadora, revolucionária e desencadeia um processo irreversível nos indivíduos. Assim, a Biko vem atuando nesses 25 anos, provocando melhorias irreversíveis no nosso povo através da educação, da solidariedade e da reconstrução da consciência negra. A Biko é a grande professora negra do Brasil."