A Revolta dos Malês teve seu ápice na noite de 24 de janeiro de 1835 na cidade de Salvador-Bahia. Após uma silenciosa e eficaz organização, protagonizada por negros e negras pertencentes ao Islamismo, estima-se que contou com a participação de cerca de mil "malês".
O termo "malê" tem origem na palavra imalê e significa "muçulmano" no idioma Iorubá. Também conhecidos como "nagôs", costumavam registrar grande parte dos acontecimentos e transmitiam bilhetes como estratégia de organizar as reuniões e divisão das tarefas, geralmente registrado na lingua àrabe.
A noite de 24 de janeiro foi escolhida devido ao esvaziamento do centro da cidade, motivado pelos festejos na Igreja do Nosso Senhor do Bonfim. Com isso, haveria o esvaziamento do centro da cidade, o que facilitaria a dominação.
Luisa Mahin, Pacífico Licutã, Manuel Calafate e Luis Sanim são as principais lideranças que elaboraram um plano de luta contra o sistema racista da época. Os principais objetivos consistiam em soltar negros escravizados e conseguir liberdade religiosa. A batalha ocorreu no centro de Salvador com os malês atacando subitamente uma patrulha do exército. Porém, uma denúncia "anônima" alertou a polícia sobre os planos revolucionários que emergiram naquela noite.
Ilustração de Maurício Pestana - Revista do Olodum
Sempre que falamos sobre a Revolta dos negros e negras Malês nos sentimos mais vivxs e orgulhosxs por essa vitoriosa experiência insuflada na primeira capital brasileira em 1835. Fomos e somos vitoriosxs pois estava em jogo, não só a nossa liberdade, mas a oportunidade de exercitar valores que carregamos até hoje como a 'memória', e o 'cooperativismo';
Fomos e somos vitoriosoxs por utilizarmos as armas e estratégias que dispúnhamos, contra um sistema racista e opressor que negava as nossas religiões, as nossas culturas, negavam a nossa existência como humanos. Nada disso nos paralisou e fomos pra luta, sem temer o combate;
Fomos e somos vitoriosxs por instaurar o 'medo' na elite dominante. Afinal, éramos vistos como coisas/mercadorias e passaram a nos enxergar como povos capazes de reivindicar direitos e de unirem - se em torno de uma causa.
Dessa exitosa experiência, herdamos a ousadia de sonhar e a vontade de ir em busca daquilo que é nosso.
Hoje, agradecemos às essas mulheres e homens que mostraram ao mundo o que somos capazes.
Temos 1835 motivos para sorrir, embora ainda tenhamos muito a conquistar!
Revolta dxs Malês, coisa de preto para o Brasil e para o Mundo.
Texto de George Oliveira - ex-aluno, hoje Gestor Administrativo da instituição, Economista e Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social (UFBA).